quarta-feira, 23 de março de 2016

Repensando as relações entre os objetos (lógica do objeto e programática)

Propomos o exercício de duas abordagens discutidas em sala: a lógica do objeto (de John Chris Jones) e a programática (de Vilém Flusser). Para isso, solicitamos que todos repensem as relações que foram articuladas entre o seu objeto e pelo menos mais dois outros na aula do dia 17/03.
Os objetos foram apresentados a partir de uma relação de representação subjetiva (apresentando o sujeito ou uma característica do sujeito que o trouxe), e a rede de relações entre os objetos acabou seguindo uma lógica também subjetiva, na maior parte das vezes finalística (apresentando as possibilidades de conexão entre os objetos a partir dos desejos de transformação subjetiva - "eu sou como o objeto x, e gostaria de ser um pouco mais como o objeto y") e algumas vezes causal (apresentando possibilidades de conexão a partir de explicação subjetiva de causa-efeito - "o objeto x, que me representa, pode desencadear algo no objeto y, que representa algo subjetivo de outro colega"), mas em nenhum caso programática (incorporando o acaso na relação "objetiva" entre os objetos).
A proposta para repensar a rede de relações entre os objetos (os mesmos objetos relacionados na aula do dia 17/03) tem por objetivo (meta-objetivo, na verdade) o exercício de uma narrativa estrutural (pensando a relação entre os objetos como meio, cujo potencial é aberto, e não como fim ou produto acabado). Para isso propomos o foco na lógica do objeto (e não do uso) e na possibilidade de articulação programática (tendo como horizonte a possibilidade de incorporação do acaso). Lembramos que não tem certo e errado, não é um exercício trivial (demanda tempo de reflexão e maturação das ideias), precisa do engajamento de vocês (apostando no exercício e testando possíveis construções visando avançar para além da finalística e da causalística como produtos, ainda que possam ser usadas como recursos para tentar chegar na programática). É um exercício de imaginação radical para que a partir de uma rede de relações já estabelecida entre os objetos vocês tenham como grande desafio imaginar possibilidades programáticas (e não meramente finalísticas ou causalísticas).

Pensem nas cartas do baralho - a ideia não é descrever um jogo específico usando as cartas, mas descrever a(s) possibilidade(s) que vocês conseguem ver nas cartas enquanto meio (estrutura) para futuros conjuntos de regras que possam vir a surgir. A pergunta é mais ou menos a seguinte: como podemos ser criativos a partir de interfaces (estruturas) dadas? Pensem na rede de conexão entre os objetos como uma estrutura que pode abrir potencial para novas articulações (como o baralho e não como um jogo específico). Para John Chris Jones o baralho (conjunto de cartas) está ligado à lógica do objeto, enquanto um jogo específico (conjunto de regras para usar o baralho) está ligado à lógica de uso.

Sejam inventivos, pois esse exercício vai ajudar muito na proposição do objeto interativo (o próximo trabalho na escala do objeto).

Para Flusser o mundo é programático (vivemos na pós-história). E isso aparece em muitas postagens antes da aula do dia 21/03. Contudo, o nosso objetivo agora é exercitar a programática para além de mero reconhecimento de sua onipresença em todas as nossas atividades. Ainda que a programática esteja presente na rede de relações estabelecida entre os objetos (seja pela aleatoriedade da sua disposição na mesa, seja pela presença de acasos na escolha dos objetos, seja pela possibilidade de acasos na vida em geral), as pessoas usam muito pouco a lógica programática para desenhar suas ações ou para entender o mundo. Via de regra, lançamos mão das lógicas finalística e causalística, predeterminando e fechando as possibilidades futuras (que obviamente estão sujeitas ao acaso, mas o acaso não é previsto). O exercício aqui proposto pretende ampliar as possibilidades de pensarmos em criar estruturas assumidamente abertas ao acaso, lançando mão da programática. A re-leitura das relações entre os objetos, considerando possibilidades de abertura dessa estrutura já estabelecida, deve servir de ponto de partida para que vocês ampliem a imaginação a partir da lógica programática.

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